Muito se tem falado de Coaching nos últimos tempos, não fosse esse um tema sempre envolto em controvérsia.
Infelizmente, o que me apercebo, não poucas vezes , é que algumas pessoas têm a percepção equivocada que “no mundo encantado do Coaching” se passa a mensagem que tudo é rosas e leveza . Um mundo cheio de discursos motivacionais e clichés que “vendem” a ideia que as pessoas de sucesso têm vidas perfeitas e que obtêm esses resultados porque são pessoas que estão no controlo da situação.
Pois…mas o Coaching não é isto!
Está longe de o ser…
Ponto 1: Não há vidas perfeitas!
Até a pessoa mais bem-sucedida tem problemas ou, utilizando uma linguagem mais positiva, desafios para superar.
Simplesmente, pessoas mais preparadas emocionalmente, conseguirão ter mais ferramentas para escolher o melhor caminho.
Ponto 2: Nesta vida poucas são as coisas que conseguimos controlar por isso, o que um processo de coaching te ensina, é que, em vez de controlares a situação, o importante é controlares a tua REACÇÃO à situação.
No final do dia, a única coisa que podemos controlar, são mesmo as nossas ações e reações.
Ponto 3: O Coaching não funciona como um passe de mágica! Ele não resolve a vida de uma pessoa de um dia para outro e se te disserem que sim…Foge!
O Coaching é um processo de desenvolvimento pessoal que fomenta o autoconhecimento e permite identificar claramente onde estamos e onde queremos estar. É um processo que permite adquirir ferramentas e competências que nos permitirão enfrentar os desafios de forma mais preparada e focada. Neste processo o Coachee/Cliente define objetivos em plena consciência dos seus valores centrais e cria um plano que permitirá identificar os passos a seguir e os recursos necessários.
Mas não haja ilusões…
Como em tudo na vida, nada se consegue sem trabalho! E o desenvolvimento pessoal é um trabalho para a vida toda…
Coaching não é Formação, não é Mentoria nem Palestras Motivacionais.
Em dinâmicas de formação o formador/mentor/palestrante , ensina, mostra o caminho e apresenta soluções, já num processo de Coaching, o protagonista é o Coachee!
O Coach não dá as soluções, nem emite opiniões, o Coach ajuda, questiona e aporta metodologias e ferramentas que incitam a reflexão, o autoconhecimento, o desenvolvimento emocional e a ação.
E porquê? Porque os valores, crenças e metaprogramas do Coachee/Cliente não serão certamente os mesmos do que os do Coach. Cada um vê o mundo de forma muito própria por isso o Coach não deve influenciar mas sim aplicar as ferramentas necessárias à reflexão, autoconhecimento e ação.
Por fim, mas não menos importante, o Coaching não é psicologia!
O cliente tem que ter estrutura emocional para passar por um processo de Coaching.
A César o que é de César!
Ponto 4: O sucesso é relativo! Se para uns o sucesso é ter cargos de liderança, para outros o sucesso é ter um trabalho com menos responsabilidade e dedicarem-se mais à família ou a hobbies. Para outros o sucesso é serem mães a tempo inteiro ou dedicarem-se a ajudar a comunidade, etc, etc.
Cada um é para o que nasce e está tudo certo!
Se perseguires um objetivo que não se coaduna com os teus valores ou que compromete áreas cruciais da tua vida, quando alcançares a tua meta, vais sentir uma sensação de vazio, pois, no fundo, não são os teus objetivos que estás a perseguir, mas sim objetivos que poderiam servir para outra pessoa, mas não para ti.
Em jeito de conclusão, não confundamos Coaching com passes de mágica!
O Coaching dá trabalho… e muito!
É um processo que exige compromisso, consistência e muita autoconsciência para se conseguir alterar padrões de comportamento e desbloquear crenças limitantes. É algo que iremos autoaplicar toda a vida e é por isso que sou da opinião que um processo de Coaching não se pode caracterizar pela leveza que muitos pensam.
Não basta fazer 2 ou 3 sessões de coaching ou fazer uma formação sobre técnicas de coaching e já está! Alcançar o patamar que pretendemos, e mantê-lo, exige um trabalho continuo, e nessa perspectiva, o coaching não pode ser encarado com a leveza que se pensa.
A teoria do eterno retorno de Nietzche, dá-nos uma abordagem interessante sobre o peso e a leveza das coisas na nossa vida. Segundo esta teoria, determinada situação torna-se leve quando não se repete indefinidamente, pois adquire um caráter efêmero. Já os eventos que ocorrem repetidamente/eternamente, ganham um peso diferente devido ao facto de não terem esse caráter efémero.
Este conceito está presente num livro que gosto bastante, A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera. Embora a temática do livro nada tenha a ver com o tema que me trás aqui hoje, o conceito da ocorrência eterna de Nietzche nele presente, aplica-se a meu ver a qualquer contexto e em qualquer dimensão.
É um facto que as situações e comportamentos que não se repetem ganham uma certa leveza.
Então se o Coaching é um processo de reflexão-ação que nos permite adquirir práticas que vamos repetir/padronizar para a vida, não pode ser encarado com leveza. O Coaching é um processo que nos permite um autoconhecimento profundo e nos dá recursos, ferramentas e metodologias para usar recorrentemente ao longo da vida por isso não é uma coisa do momento.
É um processo que exige compromisso e consistência ao longo do tempo por isso, encarar este processo com demasiada leveza, tornar-se à insustentável.