Informação é poder! Ou não…
O que muitos processos de consultoria me têm demonstrado é que ainda há muitas empresas com a cultura “informação é poder”.
E está certo, a informação tem poder!
Mas o impacto é sempre positivo?
Na minha opinião, a informação é crucial para prosperar, mas pode destruir se não for partilhada ou for incorretamente passada.
Infelizmente ainda assisto diariamente a chefias que por desconhecimento, ou estratégia consciente, retém informação com a ilusão que, detendo as informações mais relevantes para si, tornam-se mais influentes e imprescindíveis.
Pois eu vou dizer-vos uma coisa:
Já não estamos em tempos de executantes que fazem sem questionar! As pessoas precisam de saber o que se passa, ser envolvidas, de criar, participar das ideias e evoluir.
E quando falamos das novas gerações, esta questão é ainda mais critica…
Há de chegar o dia em que o estagiário vai perguntar porque não foi consultado, antes da gestão tomar aquela decisão 😅.
E está tudo certo!
Bem-vinda esta nova geração de jovens empreendedores e criativos que conseguem desafiar os seus lideres e levar uma empresa para outro patamar!
E se pensarmos bem… no final do dia, o ego é o que menos peso tem na equação.
Enquanto lideres queremos ter razão ou ter resultados?
Por isso é que digo sempre, que um consultor não faz milagres se não houver uma predisposição da gestão para envolver as pessoas, colocá-las a pensar e participar em novas ideias.
Enquanto alguns gestores e lideres não perceberem que o segredo é empoderar as pessoas e dar-lhes competências, vão continuar a gastar o seu dinheiro em processos de consultoria, sem retirar o melhor proveito dela. Ficarão sempre dependentes de competência externa, mantendo equipas desmotivadas e pouco participativas.
E vocês perguntam-me: Filipa, mas tu fazes consultoria… não é bom que as empresas precisem de ti?
Claro que sim!
Até porque a consultoria é de extrema importância, mas, a meu ver, um processo de consultoria com sucesso é aquele que traz as competências para dentro da organização.
Se temos que voltar à mesma casa para fazer o mesmo trabalho ano após ano, é porque foi uma consultoria que deixou pouco impacto interno e tratou-se mais da externalização de uma tarefa que outra coisa.
É claro que a faturação é importante, mas, se estou aqui para gerar real valor, tenho que capacitar o meu cliente para depois continuar o trabalho sem mim (e se o trabalho ficar bem-feito, outras oportunidades irão surgir, noutras vertentes ou noutros clientes).
O segredo é capacitar e empoderar!
É necessário capacitar e empoderar as pessoas para a participação, bem como, incentivar a partilha, a ponderação de cenários, prós e contras, para chegar às melhores ideias e projetos de sucesso.
Esta premissa parece óbvia quando falamos de processos de consultoria na área dos recursos humanos, visto que os RH tem awareness para a questão do empoderamento e capacitação, mas quando se tocam outras áreas, não é assim tão óbvio…
Dou-vos um exemplo prático:
Em tempos ajudei um cliente a implementar um sistema de gestão de qualidade e quando lhe disse que todas as áreas teriam que estar envolvidas e seriam feitas reuniões periódicas com todas as equipas, ele ficou muito admirado!
“Mas falamos de qualidade! O que isso tem a ver com pessoas?” disse-me ele.
Ora, mas tem tudo a ver com pessoas!
Quem é que vai trabalhar nos processos?
Pois… as pessoas!
É exatamente esta ideia de, “cada área tem que estar no seu quintalinho”, que gera obstáculos ao crescimento e cria um fosso entre os recursos humanos, operações e áreas de suporte.
Neste caso em concreto, era de facto o departamento de qualidade que tinha que implementar o sistema de gestão, mas seriam os RH e as pessoas da operação que tinham que trabalhar diariamente com base nos processos implementados.
Tinham que ser ponderadas questões como:
- Os fluxos de trabalho atuais são eficazes?
- Como é a comunicação diária entre departamentos que dependem entre si?
- Quais as principais dores de cada departamento?
- Quais os principais desafios que advém da dependência entre departamentos?
- Como podemos desenhar um sistema de gestão que funcione para todas às áreas/departamentos?
Em suma, tem tudo a ver com pessoas!
Se todas as áreas expuserem as suas dificuldades face aos processos de trabalho, derem as suas ideias para melhorar a comunicação entre departamentos e otimizar processos de trabalho, vamos criar um sistema de gestão adaptado à realidade e ás necessidades de cada área.
E acima tudo estas pessoas vão COMUNICAR, que é das coisas mais importantes e a maior causa de problemas nas organizações e na vida das pessoas!
É incrível que algo que tão intrínseco e tão natural como a comunicação interpessoal seja uma das maiores lacunas de competências da atualidade!
Teria tanto para dizer sobre isto…
Mas o texto já vai longo, por isso voltemos ao que nos trouxe aqui: O envolvimento das pessoas na melhoria contínua de uma organização.
O objetivo não é ter resultados?
Então qual a ideia de implementar um sistema de qualidade que vai atrasar mais o trabalho das pessoas, vai fazer com que elas contornem e acabem por subverter o objetivo dos processos implementados?
Está tudo interligado!
Uma empresa é como o corpo humano, precisa de todos os órgãos para viver!
Por isso é que digo sempre aos gestores com quem trabalho:
Se querem uma equipa comprometida, comuniquem e sejam tão transparentes, quanto possível. Partilhem objetivos, partilhem estratégias, dores, projetos que irão acontecer. Vão ver que podem surgir ideias verdadeiramente brilhantes das equipas que lidam com a operação diariamente.
O segredo é potenciar as pessoas, dar-lhes competências e colocar as equipas a comunicar.
A responsabilização só é possível com a dose certa de engagement!
Contudo, o engagement requer que as pessoas confiem nos seus líderes e se identifiquem com a cultura.
E é isto!
Potenciem, empoderem e comuniquem!
