COMUNICAR PARA LIDERAR
A comunicação é o alicerce das interações humanas, e a sua importância transcende o simples ato de falar.
Um exemplo dessa importância está na história de Duque de Zhou (周公旦, Zhōu Gōng Dàn – Séc. XI a.C) que vos vou contar hoje:
Era uma vez, na china antiga, um reino vasto e cheio de intrigas, onde o equilíbrio do poder estava constantemente a ser testado. No centro deste palco histórico estava o Duque de Zhou. Um homem de uma inteligência ímpar e um coração inteiramente dedicado ao bem-estar do seu povo. A sua história, tão rica quanto a terra que governava, ecoa até hoje como um exemplo de liderança, sabedoria e, acima de tudo, da arte da comunicação.
O Duque de Zhou, era o irmão mais novo do Rei Wu, o conquistador que derrubou a dinastia Shang e colocou no poder a Dinastia Zhou.
Zhou era um homem honrado, leal ao seu irmão, cuja inteligência e habilidades de comunicação fizeram dele a escolha natural para conselheiro do Rei.
Mas certo dia, um acontecimento inesperado leva a uma reviravolta que põe em causa a estabilidade do Reino.
Wu morre e o herdeiro ao trono, o seu jovem filho, é ainda uma criança.
A corte ficou num estado de confusão e os nobres divididos entre lealdades e ambições. Muitos temiam uma guerra civil…
Zhou que acreditava que a ordem e a estabilidade política dependiam de líderes que agissem com moralidade e comunicassem de forma franca, decidiu que manteria os seus valores e seria fiel ao legado do irmão.
Foi então que se ergueu perante todos e fez uma declaração.
Usando palavras simples, carregadas de emoção e autenticidade, ele dirigiu-se à nobreza, ao povo e aos soldados e disse-lhes que não seria seu Rei, mas sim, seu guardião até que o príncipe tivesse idade para governar. E, Ali, perante todos, fez uma promessa de proteger o trono com todas as suas forças e tudo fazer para que o jovem rei governasse em paz e justiça a seu tempo.
Esse momento foi um marco na sua comunicação. Ele usou o poder das palavras, não só para acalmar os temores, mas também para inspirar confiança. Não havia ali arrogância, nem fome de poder, apenas um sentido profundo de dever. A sua mensagem clara e emocionalmente ressonante conquistou os corações de todos.
E a demonstração das suas habilidades não terminou por aqui…
Sabendo que havia desconfianças entre os nobres, o Duque de Zhou fez algo inesperado: Visitou pessoalmente cada um dos líderes regionais mais poderosos.
Em cada reunião, ele ouvia com atenção, mostrando um respeito profundo pelas preocupações deles. Com uma empatia rara, adaptava a sua comunicação a cada interlocutor, revelando as suas intenções através de uma lógica calma, mas poderosa. Usava histórias e metáforas para ilustrar os perigos de uma nação dividida e o valor da união sob uma liderança justa.
Com a sua comunicação e com as suas ações, passo a passo, Zhou conseguiu unir o reino.
Mas o momento mais emblemático da sua liderança foi quando, após anos de regência, o jovem Rei finalmente atingiu a idade adulta.
Muitos duvidavam que o Duque de Zhou cumprisse a sua promessa de ceder o poder. Mas, fiel à sua palavra, ele renunciou imediatamente ao seu posto e retirou-se para viver uma vida simples, longe da corte.
Esta ação final comunicou uma mensagem mais poderosa do que qualquer discurso: o Duque de Zhou era um homem de honra, alguém em quem se podia confiar inteiramente.
A nobreza, o povo e até os seus antigos rivais ficaram impressionados pela profundidade do seu caráter. A sua renúncia voluntária ao poder consolidou a sua imagem como um líder com moral.
Com esta ação final ele comunicou não apenas pelas palavras que proferiu, mas pela mensagem implícita das suas ações. Foi a derradeira prova que os valores que o norteavam eram a justiça, lealdade e serviço ao povo.
No fim, o Duque de Zhou foi lembrado não só como um grande líder, mas como um exemplo eterno de como a comunicação clara, honesta e moral pode unir um reino, inspirar confiança e assegurar a paz.
O seu legado transcendeu o tempo, ecoando uma história de integridade e de poder através da comunicação. O Duque de Zhou é considerado, até aos dias de hoje, uma figura central na história da China antiga, pelo seu papel essencial na consolidação da dinastia Zhou (uma das mais longas e influentes dinastias da história chinesa).
As suas ações e estilo de comunicação são admiradas até hoje e influenciariam profundamente os ensinamentos de Confúcio, um dos maiores filósofos da história, que viveu séculos mais tarde, numa era marcada por caos político e guerra. Confúcio, acreditava que uma comunicação eficaz não se tratava de manipulação ou engano, mas de transmitir valores como lealdade, justiça e respeito, como fez Zhou.
A governança do Duque de Zhou demonstra-nos o papel central da comunicação na liderança e na construção de qualquer projeto coletivo.
Quando há clareza na comunicação, as metas podem ser atingidas e as equipas funcionam de maneira coesa. Quando há falhas ou ruídos, mesmo os melhores planos podem desmoronar.
𝔼 ℚ𝕌𝔸𝕃 É 𝔸 𝕄𝕆ℝ𝔸𝕃 𝔻𝔼𝕊𝕋𝔸 ℍ𝕀𝕊𝕋Óℝ𝕀𝔸?
CONGRUÊNCIA!
“A comunicação eficaz acontece quando há congruência entre o que sentimos, pensamos e expressamos.” – Carl Rogers.
A história de Zhou é um exemplo de como uma liderança assente em valores éticos e numa comunicação aberta, gera confiança.
Mas, uma boa comunicação não é uma questão de usar palavras caras e bem articuladas, é uma questão de sermos autênticos e congruentes para que os outros confiem em nós!
A comunicação é como uma cebola – tem camadas e cada uma tem o seu lugar, o seu propósito.
[para aqueles que acham que já ouviram isto em algum lado, sim, não resisti a inspirar-me no Shrek . O próprio Shrek, essa figura improvável, sabia que, tal como as cebolas, somos todos feitos de camadas😅]
Cada camada sobreposta, esconde ou revela algo, à medida que a vamos descascando…
A primeira camada é a mais óbvia: a linguagem verbal. Ela surge à superfície, como aquilo que somos quando nos escutam. Mas essa camada é frágil e volátil e não subsiste se desprovida do que a sustenta por dentro — as camadas interiores que representam os comportamentos e as emoções.
Mas, para compreendermos essas camadas mais profundas, temos de mergulhar, no núcleo da cebola. É na raiz que estão os valores, as crenças e o cerne do Ser. É aí, no bolbo oculto, que reside a nossa verdadeira essência, aquilo que molda não só o que dizemos, mas também o que sentimos e o que somos.
O que me apercebo, é que, cada vez mais, comunicamos com o mundo através de camadas que se sobrepõem e desvanecem, enquanto a raiz do nosso Ser permanece oculta, indizível, talvez incompreensível.
𝗘 𝗶𝘀𝘁𝗼, 𝗹𝗲𝘃𝗮-𝗺𝗲 à 𝗶𝗱𝗲𝗶𝗮 𝗰𝗲𝗻𝘁𝗿𝗮𝗹 𝗱𝗲𝘀𝘁𝗮 𝗱𝗶𝗰𝗮 𝗱𝗼 𝗺ê𝘀: numa camada mais superficial, podemos treinar-nos para ser profissionais com excelentes capacidades de oratória. Ser capazes de falar para uma plateia ou de apresentar uma ideia a uma equipa com confiança e entusiasmo. Contudo, isso não significa necessariamente que consigamos ter uma boa comunicação quando nos relacionamos com uma equipa ou colegas no dia a dia.
As palavras são só palavras se os nossos valores e os nossos comportamentos não forem congruentes com o que dizemos.
A nossa comunicação verbal precisa de estar em sintonia com a nossa linguagem corporal, o tom e o ritmo da voz, para transmitir autenticidade. Da mesma forma, os nossos atos devem refletir os valores que expressamos nas palavras – Quando fazemos o que dizemos, ganhamos respeito naturalmente.
É a congruência entre todos estes elementos que determina o impacto da nossa comunicação. Se as expressões faciais, o tom de voz, os gestos e as ações posteriores, não estiverem alinhados com o que dizemos, vamos transmitir uma mensagem inconsistente.
Reconhecer as nossas emoções e aceitar a nossa identidade é crucial para sermos congruentes. Por outro lado, essa autoconsciência emocional permite também compreender melhor as emoções dos outros e ser mais empático. O que é muito facilitador para a comunicação e para a gestão de conflitos.
É por isso, que no 𝗖𝘂𝗿𝘀𝗼 𝗖𝗼𝗺𝘂𝗻𝗶𝗰𝗮𝗿 𝗽𝗮𝗿𝗮 𝗟𝗶𝗱𝗲𝗿𝗮𝗿, começamos por uma abordagem às emoções e aos comportamentos com a ajuda da PNL e do modelo Disc. Desta forma a passagem para as técnicas de comunicação é feita com maior alinhamento interior.
𝔼𝕊𝕋ℝ𝔸𝕋É𝔾𝕀𝔸𝕊 ℚ𝕌𝔼 𝔽𝕌ℕℂ𝕀𝕆ℕ𝔸𝕄
A consciência emocional resulta numa comunicação mais eficaz e ajuda a descomplicar o nosso dia-a-dia.
Compreender e utilizar a comunicação verbal e não verbal de forma integrada, evita falhas de comunicação que podem resultar em erros ou conflitos.
É por isso que hoje partilho 3 estratégias para obter uma comunicação que gera confiança:
- Autenticidade & Comportamentos: Não escondam o que sentem ou pensam. Mostrem entusiasmo, se estão entusiasmados e tristeza se estão tristes. Assim, os outros terão uma percepção mais clara sobre vocês e vão compreender-vos melhor.
- Não guardem para dentro, se estiverem em conflito: Assumam o conflito e expressem a vossa indecisão, confusão, etc. Isso ajuda a ultrapassar o conflito, transmite humildade e ao mesmo tempo confiança.
- Se alguém está a comunicar com sinais de conflito interno ou falta de congruência: estabeleçam rapport, pratiquem a empatia. Estando em sintonia com a pessoa, podem ajudar a resolver objeções internas e obter maior nível de entendimento.
A implementação destas estratégias gera congruência, autenticidade e transmite uma mensagem de confiança. Usem e abusem delas.
𝔼 ℙ𝕆ℝ 𝔽𝕀𝕄… 𝕌𝕄 𝔻𝔼𝕊𝔸𝔽𝕀𝕆: ℝ𝕖𝕔𝕠𝕟𝕙𝕖𝕔𝕖𝕣 𝕠 𝕕𝕚á𝕝𝕠𝕘𝕠 𝕚𝕟𝕥𝕖𝕣𝕟𝕠
O que nós dizemos a nós próprios e aos outros tem um grande impacto no estado emocional.
A linguagem dirige os nossos pensamentos e ajuda-nos a criar a nossa realidade, potenciando ou limitando as nossas possibilidades. As palavras têm poder porque sugestionam, pressupõem e insinuam significados.
Para terminar esta edição da nossa newsletter, proponho um pequeno desafio para refletirem sobre o impacto do vosso diálogo interno e as emoções na forma como se comunicam com os outros.
𝗘𝘅𝗲𝗿𝗰í𝗰𝗶𝗼: Tirem 10 minutos do vosso dia, num ambiente tranquilo, e façam o seguinte:
Passo 1:
Silenciem o ruído à vossa volta – Respirem fundo algumas vezes e tentem acalmar a mente.
Escutem a vossa voz interna – Que palavras, pensamentos ou emoções surgem espontaneamente? São positivas ou negativas? São críticas ou encorajadoras?
Reflitam sobre o impacto dessas palavras – Imaginem que a forma como falam com vocês próprios(as) é a mesma que utilizam para falar com um amigo ou colega. Como acham que eles se sentiriam? E vocês?
Passo 2:
Agora, mudem a perspectiva – Escolham um pensamento ou emoção negativa e reformulem-no de uma forma mais gentil e construtiva. Como poderiam comunicar essa ideia, tanto para vocês próprios como para os outros, de uma forma mais empática e eficaz?
Este exercício simples pode ter um impacto profundo na forma como nos relacionamos com nós próprios e com os outros. A qualidade da nossa comunicação externa reflete muitas vezes a nossa comunicação interna, por isso, façam deste desafio um hábito e observem as mudanças!
Até breve skill conquerors.